A base da Transformação Digital na saúde, assim como nos demais setores, está na adoção de novas tecnologias. O foco, porém, é a reestruturação do modelo de negócios e a adoção de uma nova cultura empresarial.
Tais mudanças refletem nos processos de gestão e se desdobram em novas formas de diagnosticar, tratar e prevenir doenças. Dessa forma, são usufruídas tanto pelos profissionais da área quanto pelos pacientes.
Se você já atua ou pretende atuar nesta área, deve acompanhar:
As mudanças do mercado brasileiro da saúde;
As tendências para o setor nos próximos anos;
As tecnologias mais utilizadas atualmente e como funcionam;
Os principais impeditivos da inovação na saúde;
E o que fazer para evitá-los ou superá-los.
Neste artigo, abordamos todos estes pontos.
Entender o mercado da saúde no Brasil é o primeiro passo para aqueles que pretendem, ou já fazem parte dele, conhecer melhor suas oportunidades e desafios.
Nosso país é o único no mundo que possui um Sistema Único de Saúde (SUS), que oferece atendimento e tratamento gratuito a toda população. Este sistema é fundamental para a saúde da nação, pois boa parte da população depende deste serviço público. Porém, com o aumento da renda e a expansão do mercado de trabalho, cada vez mais pessoas estão optando por serviços particulares, cuja atuação é composta por agentes individuais que atuam em diferentes frentes como clínicas e laboratórios privados, planos de saúde, entre outros.
Neste contexto, também encontramos as HealthTechs: startups que desenvolvem tecnologias para otimizar o sistema de saúde como um todo e o que mais estiver relacionado a ele - inclusive a indústria farmacêutica.
As HealthTechs são muito procuradas pelas empresas do segmento que querem otimizar suas estratégias, visto que há uma crescente preocupação em melhorar a gestão e os controles operacionais para manter a lucratividade em um ambiente altamente competitivo.
Temos ainda, dois pontos muito importantes que precisam ser observados:
Devido aos constantes avanços tecnológicos e aumento da longevidade, os custos no setor estão aumentando. Uma tendência que está acontecendo em todo o mundo;
No Brasil, em específico, temos um “bônus demográfico”, pois até 2025 a população em idade operativa será maior que a população em idade dependente (crianças e idosos). Após esta data, o país deve entrar em um período de envelhecimento, o que representa uma oportunidade de negócios para o mercado da saúde.
Além de acompanhar as transformações do setor no Brasil, também precisamos ficar de olho nas tendências de mercado. Seis delas se intensificaram em 2021 e, provavelmente, continuarão em alta nos próximos anos:
Segundo estudo da Deloitte, “tecnologias como visitas virtuais, monitoramento remoto de pacientes, saúde móvel e sistemas de resposta de emergência pessoal” devem crescer em oferta e demanda. Além, é claro, da telemedicina, que foi autorizada temporariamente no Brasil desde abril de 2020 por meio da Lei 13.989/20, enquanto a pandemia de Covid-19 permanecer.
E por falar em leis, as regulamentações deverão acompanhar as mudanças tecnológicas. Questões como preço, acessibilidade, transparência, privacidade, segurança e gestão de dados devem ser discutidas.
As pesquisas científicas também serão digitalizadas - e não apenas o modelo de negócios das empresas. De acordo com a Rock Health, “se a última década de digitalização de processos existentes, esta será a década da transformação digital na ciência da medicina”. Tecnologias como Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning serão cada vez mais utilizadas para otimizar testes clínicos e analisar dados coletados. Falaremos sobre estas tecnologias a seguir.
Wearables são dispositivos eletrônicos vestíveis que podem ser utilizados para coletar e monitorar dados. No caso dos smartwatches, por exemplo, é possível conferir a temperatura e batimentos cardíacos. Com esta tecnologia, tanto os usuários quanto os profissionais da saúde têm acesso a um grande volume de informações, facilitando diagnósticos e tratamentos.
A previsão é que o mercado de wearables atinja um valor de mercado de US$ 27 milhões até 2023. Os dados são do Canaltech.
Segundo a Rock Health, teremos espaços virtuais específicos para diferentes especialidades, como já acontece nas consultas remotas com psicólogos. As empresas farmacêuticas também devem ocupar o ambiente virtual e em investimentos de gigantes da tecnologia, como Google, Microsoft, Apple e Amazon. Até 2024, o mercado de saúde digital deve movimentar U$423 bilhões.
As tendências que vimos acima ampliam nossos horizontes. Há muitas oportunidades no mercado e, para manter a competitividade, as empresas que atuam no mercado da saúde precisam se adaptar, caso não ainda não tenham o DNA digital.
Mas, com tantas tecnologias em ascensão, como escolher aquela que faz mais sentido para o seu negócio?
A seguir, temos uma relação das tecnologias mais utilizadas pelo setor da saúde no momento e algumas possibilidades de aplicação.
Na área da saúde, a Inteligência Artificial utiliza o Aprendizado de Máquina para auxiliar diagnósticos e análises detalhadas de relatórios médicos, contribuindo para a prevenção, identificação e tratamento de doenças. Também pode ser empregada na medicina de precisão, pesquisa genética e documentação clínica.
Segundo o Canaltech, o uso desta tecnologia deve aumentar consideravelmente no setor nos próximos anos; um mercado que deverá ultrapassar U$34 bilhões até 2025, e U$67 bilhões até 2027.
Este termo se refere ao grande volume de dados, estruturados ou não, que podem ser utilizados por instituições para a geração de produtos, estratégias e pesquisas. Assim como a IA, também pode auxiliar na identificação de padrões, o que facilita a tomada de decisão.
São dispositivos eletrônicos que compartilham informações entre si e com o usuário. É o caso da Alexa, por exemplo, que se comunica com outros aparelhos conectados à ela. Na saúde, a Internet das Coisas é chamada de Internet das Coisas Médicas.
“Além de monitorar pacientes em suas casas, as inovações em sensores e comunicações sem fio permitem que eles sejam acompanhados enquanto estão em trânsito. Graças à IoT médica, os pacientes podem fazer as atividades que desejam fazer em seus próprios termos, permanecendo conectados aos seus cuidadores”, afirma pesquisa da Deloitte.
Possibilita a criação de itens personalizados que se encaixam às necessidades de cada paciente, além da produção de próteses, órgãos e tecidos humanos.
Utilizadas no treinamento de médicos, simulação de ambientes cirúrgicos e assistência na execução de procedimentos;
Permite armazenar e acessar dados “na nuvem”, isto é, sem a necessidade de servidores locais. Essa opção economiza recursos e facilita o acesso aos dados do paciente, que podem ser conferidos a qualquer hora e em qualquer lugar sem comprometer a segurança.
As tecnologias acima podem ser incorporadas individualmente ou em conjunto. A inteligência artificial aliada à big data, por exemplo, reduz custos, agiliza processos e melhora o atendimento, pois além de diminuir o tempo de espera nos consultórios, possibilita diagnósticos mais rápidos e precisos.
Os principais benefícios da transformação digital na saúde, são:
Acompanhar tratamentos, prescrever e renovar receitas, solicitar e avaliar exames, diagnosticar doenças, realizar pesquisas… Essas são apenas algumas das atividades de um profissional da saúde, cujo dia a dia é bastante complexo.
Nesse contexto, a digitalização de processos e o uso de novas tecnologias agiliza uma série de atividades, inclusive administrativas.
Nos “bastidores” de uma clínica temos a gestão financeira, de pessoas e de relacionamento, bem como uma constante preocupação em aumentar a produtividade e a qualidade dos atendimentos. Todos esses pontos são beneficiados com a transformação digital.
Com a inteligência artificial e o big data, profissionais da saúde tem rápido acesso aos dados de um paciente, podendo realizar diagnósticos mais precisos. Além disso, é possível compartilhar essas informações com outros médicos e discuti-las em tempo real.
As mudanças também ocorrem fora do consultório. A implementação de novas tecnologias pode acelerar o tempo de espera nas recepções bem como na obtenção de exames, prontuários e receitas.
A transformação digital abranda significativamente os custos na área da saúde. De acordo com a PwC, o uso de dispositivos móveis para acompanhamento médico poderia economizar 14 bilhões de dólares no Brasil.
Mais pessoas poderiam ser tratadas se reduzíssemos a necessidade de deslocamentos. Com isso, teríamos uma maior prevenção de doenças e, por sua vez, em um número maior de pessoas saudáveis.
Um estudo da McKinsey, revelou que os maiores impeditivos da transformação digital nas empresas são fatores culturais e comportamentais. Entre eles, estão:
Em seguida, temos a falta de conhecimento de aplicações e tendências digitais, bem como a falta de infraestrutura e talentos de TI.
Vamos explanar como essas situações se apresentam na área da saúde e possíveis caminhos para resolvê-las:
Na saúde, a mudança de cultura é especialmente desafiadora, pois o setor possui uma característica intrínseca de assumir poucos riscos. Afinal, tais alterações podem influenciar o bem estar dos pacientes.
Entretanto, a transformação digital não precisa ser abrupta. Podemos começar verificando o quanto a equipe é aberta à mudança e seu nível de conhecimento em relação às ferramentas que poderiam ser aplicadas. Depois, avaliamos o quão adaptável é a cultura corporativa para, então, definir metas para o processo de TD.
As tecnologias digitais abriram tantas oportunidades que a instituição pode perder o foco e não saber qual caminho seguir. Para evitar esse problema, tenha um objetivo bem definido. Sua estratégia determinará qual ferramenta você irá utilizar.
Reflita: qual é a sua missão? Qual posicionamento deseja conquistar no mercado? Como você quer ser lembrado pelos seus pacientes? As respostas para estas perguntas trarão o foco necessário.
Empresas inovadoras são centradas no usuário, ou seja, compreendem que o seu modelo de negócios visa atender as necessidades de seus clientes. Ao mesmo tempo, consideram possíveis mudanças comportamentais , adaptando-se às novas tendências com facilidade. Por isso, trazer o usuário para perto é fundamental para a inovação - inclusive no processo de cocriação de soluções.
A coleta e a análise de dados é outro fator importante. Com estas informações, a instituição ganha uma visão mais estratégica, podendo solucionar problemas e tomar decisões com maior velocidade.
Equipes divididas, focadas exclusivamente em suas atividades entravam a transformação digital na saúde e nos demais setores. Para combater a mentalidade de departamento é preciso tornar os fluxos de comunicação mais fluidos, incentivando a colaboração e o troca de conhecimento.
Quando um colaborador tem uma visão do todo, e não apenas de uma parte da empresa, fica mais fácil identificar ameaças e oportunidades. Essa dissolução também aumenta o engajamento, a produtividade e potencializa a inovação. Portanto, considere reformular a cultura, incentivando a participação de diferentes áreas na busca por soluções.
Em uma pesquisa divulgada no Healthcare IT News, gestores da área da saúde classificaram como prioritária a inovação nos processos operacionais e financeiros. A experiência do paciente, por sua vez, ficou em segundo lugar.
Por esse motivo, clínicas, hospitais, laboratórios e demais atores do segmento estão investindo em transformação digital para ganhar competitividade, garantir a satisfação dos usuários e sair na frente.
Nesta mesma pesquisa, 73% dos gestores entrevistados consideram as ferramentas de gerenciamento e análise de dados como as mais importantes. Inteligência Artificial e Computação em Nuvem ficaram em segundo e em terceiro lugar, respectivamente.
Porém, precisamos lembrar que a tecnologia é apenas um meio para atingir os objetivos do negócio. A verdadeira inovação começa pela mudança de cultura. Precisamos superar a aversão à mudança, a mentalidade de departamento e manter o cliente por perto.
E o mais importante: precisamos encontrar foco. Qual é seu principal objetivo com esta transformação? Como ela irá gerar valor para os seus clientes? As respostas destas perguntas norteiam a estratégia, que por sua vez determinará a melhor tecnologia.