Quem aí já ouviu falar sobre os Ciclos de Hype, ou de exagero de uma inovação? Tema muito discutido no ecossistema de inovação, o Ciclo do Hype nos explica porque algumas tecnologias criadas geram expectativas muito altas, mas que muitas vezes não entregam a produtividade esperada. Conhecem o famoso “fazer por fazer” e não por um motivo? É disso mesmo que estou falando! Estamos inseridos em um mercado que, cava dez mais, cobra processos ágeis e investimentos em inovação e, muitas vezes, sem instrução, metodologia e, principalmente, estratégia, vemos investimentos em produtos e processos que não atendem a nenhuma dor.
Mas, como desenvolver tecnologias que gerem resultados e não apenas expectativas? Chega mais que vou te contar sobre alguns pilares para a construção de empresas do futuro e como fugir de soluções digitais que não levam ninguém a lugar algum. Boas vindas à Indústria 4.0.
O Ciclo de Hype de Inovação explica porquê o surgimento de algumas novas tecnologias geram grandes expectativas e promessas de crescimento. Ele é é constituído por cinco fases distintas, distribuídas em um quadrante que analisa “expectativas x tempo”:
Imagem: Data Geeks
(1) O Gatilho da Inovação (Innovation Trigger) acontece quando uma nova tecnologia é descoberta e as primeiras provas de conceito sobre suas funcionalidades são realizadas. Apesar da tecnologia ser inutilizável nessa fase, é geralmente neste momento que a publicidade dessa nova tecnologia é maior.
(2) No Pico das Expectativas Infladas (Peak of Inflated Expectations), com a publicidade e expectativas de crescimento altas, algumas empresas embarcam no investimento na tentativa de se tornarem pioneiras no desenvolvimento de tal tecnologia. Algumas tentativas vêm acompanhadas de sucesso, mas em sua grande maioria, não.
(3) O Abismo da Decepção (Trough of Disillusionment) acontece quando o desenvolvimento dessas novas tecnologias não conseguem ser entregues de uma maneira comercial, por serem inviáveis financeiramente ou imaturas tecnologicamente. Permanecem aqui apenas algumas empresas focadas em sua comercialização.
(4) São dessas empresas que surgem mais exemplos de como essa tecnologia pode ser oferecida no mercado, e onde surgem mais empresas dispostas a financiar pilotos de 2a ou 3a geração. Essa fase é conhecida como o Aclive da Iluminação (Slope of Enlightenment).
(5) Por último, é no Platô da Produtividade (Plateau of Productivity) que entendemos as maiores usabilidades dessas tecnologias no mercado e onde essas tecnologias são adotadas em uma maior escala.
Utilizei o hype como um dos vários porquês que explicam a causa para alguns investimentos em Transformação Digital e novas tecnologias que não “dão certo” e não cumprem com suas propostas iniciais, muito comum em diversos produtos digitais sendo desenvolvidos por aí. Para que seu investimento seja certeiro, é preciso ter muita clareza de seu objetivo final para que o desenvolvimento do produto digital e de novas tecnologias possa cumprir com o que foi proposto inicialmente.
Aqui no blog da ateliware já discutimos sobre o uso de novas tecnologias na Transformação Digital. Explicamos que o seu uso não é um objetivo final, mas um meio para se alcançar a inovação e que, a partir daí, podemos aumentar a produtividade e potencializar resultados.
Para tentar explicar melhor como podemos buscar novas tecnologias e desenvolver melhores produtos digitais, utilizarei a descrição do index de maturidade da indústria 4.0, desenvolvida na Universidade de Aachen, na Alemanha. Vale sempre lembrar que não existe uma receita de bolo, mas tentarei ilustrar o potencial caminho a ser seguido para uma tomada de decisão mais rápida, e também indicar como podemos evitar o investimento em tecnologias “hype”, ou da moda.
O termo 4.0 surgiu com o seu potencial de impacto revolucionário, uma alusão às três primeiras revoluções do setor da indústria, da disseminação da integração e da comunicação e informação na produção industrial. Um dos desafios, senão o maior, que existe na construção das empresas do futuro é o tempo de procura e de respostas para a resolução de problemas e, portanto, o tempo e recursos consumidos para a tomada de decisão.
Refletindo: o produto final do investimento em inovação e soluções digitais, principalmente dentro das empresas, são focados na redução da utilização dos recursos para que os subsídios “restantes” sejam utilizados de uma melhor forma, isto é, para uma tomada de decisão rápida, lógica e que esteja alinhada com os objetivos da companhia.
O estudo do Index de Maturidade da Indústria 4.0 define o termo como uma “interconectividade e comunicação multilateral, rica em volume de dados, e em tempo real entre o sistema cyber-físico e pessoas”. Essa conectividade possibilita um melhor entendimento de como as coisas se relacionam umas com as outras, permitindo processos de tomada de decisão mais rápidos. Segundo os pesquisadores, esse sistema possibilita que empresas possam responder mais rápido às demandas complexas de seus clientes, são mais velozes e mais precisos para desenvolver produtos que atendam aos mercados, concedendo a escalabilidade e oferta de certas soluções mais depressa - e é essa agilidade que permitirá que as empresas se adaptem com maior dinamismo às mudanças.
Cada fase no index de maturidade representa um estágio ou um objetivo que a sua empresa pode buscar no desenvolvimento de um produto. Vale lembrar também que quanto mais distante do ponto inicial da matrix, maior o valor que ela pode gerar para sua empresa. E eu te conto como.
Fonte: Acatech, 2020.
No primeiro estágio no caminho do desenvolvimento encontra-se a computerização. Neste ponto, compondo a base da fase de digitização, os departamentos de uma empresa usam diferentes tecnologias, isoladas umas das outras, que são em sua maioria utilizadas para tornar tarefas repetitivas mais eficientes. Nessa fase ainda se encontram maquinários sem interfaces digitais e que são operadas manualmente.
No segundo estágio, temos a conectividade. Aqui as informações tecnológicas da empresa, que antes eram isoladas, se encontram conectadas. Apesar de não estarem completamente integradas, as aplicações e partes dos sistemas operacionais da empresa são interoperacionais, e é nesse estágio que a fase de digitalização se finaliza.
O processo de “Indústria 4.0” se inicia no 3º nível, a visibilidade, onde sensores, por exemplo, são utilizados para a coleta de grandes números de dados e informações. Tecnologias como esta permitem que os dados sejam capturados em tempo real muito além de somente as áreas de operação e manutenção. É nesta fase que temos um modelo digital, real e praticamente “ao vivo” dos processos e acontecimentos das empresas a todo tempo, algo que pode ser um grande desafio para as empresas cujos dados podem ser muitas vezes descentralizados e não compartilhados por toda companhia. Em alguns casos, existem processos e funções em toda a empresa que nem sequer são contabilizados e retém dados e informações que podem dar um panorama real do que está acontecendo.
O próximo estágio é a ** transparência**, que foi desenhado para a empresa entender porque algo acontece e utilizar essa informação para produzir conhecimento sobre as causas de problemas e ineficiências. É nessa fase que as análises das “sombras digitais” são feitas, e são esses estudos que produzem conteúdos para tomada de decisão rápida. Novas tecnologias que possibilitam a análise de grandes volumes de dados podem ser de grande ajuda nessa fase.
No quinto estágio, capacidade preditiva, a empresa pode utilizar os dados e interpretações gerados no estágio anterior (transparência) para criar modelos preditivos e de futuro que vão demonstrar uma variedade de cenários e qual a possibilidade de cada um acontecer. Um exemplo de uma operação mais robusta é a redução do número de eventos inesperados causados por disrupções.
O sexto e último estágio no desenvolvimento da indústria 4.0 é adaptabilidade. Capacidade preditiva é requisito essencial para decisões automáticas e rápidas, mas é o monitoramento e adaptação contínua que permitem que a empresa delegue algumas decisões para sistemas de TI para que a empresa possa se adaptar o quanto antes ao ambiente de negócios e acontecimentos inesperados.
São poucas as empresas do setor que estão implementando estratégias dentro das quatro fases da indústria 4.0 (visibilidade, transparência, capacidade preditiva e adaptabilidade) porque a construção é cumulativa, não se passa para uma fase sem a anterior ter sido concluída.
Vale lembrar que não existe uma obrigatoriedade de toda a empresa passar por todos esses estágios por completo. Você pode iniciar o processo com um produto digital, um processo novo eficiente. O ponto de provocação e o motivo do compartilhamento desse fluxo é para auxiliar você e a sua empresa escolherem o melhor investimento para a fase e projeto que vocês se encontram hoje. O Machine Learning (ML), ou aprendizado da máquina, serve de ótimo exemplo para o que estou querendo dizer.
Machine Learning é uma aplicação de inteligência artificial (IA) que fornece aos sistemas a capacidade de aprender e melhorar automaticamente com a experiência, sem ser explicitamente programado. Existem diversas aplicações para o Machine Learning como: detecção de fraudes, manutenção preditiva e o mais comum, é utilizado em veículos autônomos. Mas ,se pararmos para refletir, de nada nos serviria investir em ML se não temos dados coletados e organizados e se muito menos temos os dados digitalizados. O investimento em novas tecnologias precisa ser consciente e estruturado e ser cada vez menos um hype.