É certo que no desenvolvimento de uma solução digital diferentes problemas precisam ser resolvidos: enquanto uma equipe pode não estar alinhada sobre qual caminho seguir, uma organização pode estar encontrando dificuldades em uma nova regulamentação, ou ainda, estar enfrentando dúvidas quanto a um novo mercado. Ainda que sejam cenários diferentes, todas essas situações apresentam uma coisa em comum: questões chaves impedem seus protagonistas de avançarem com certeza. A solução está no Discovery.
Os processos de descoberta (ou Discovery) são implementados a fim de poupar esforço, tempo e dinheiro, através da união de um conjunto de evidências e orientações sobre o que fazer a seguir.
Gosto de começar meus workshops de descoberta com um check list do livro “Roube Como um Artista”, de Austin Kleon. Nele, ainda que Austin não fale especificamente sobre os pontos a serem considerados no processo de descoberta de um produto digital, é possível adaptá-los perfeitamente.
O processo de descoberta é uma etapa do projeto onde toda a equipe se compromete a definir os objetivos principais do negócio, os resultados desejados, e as metas e métricas do futuro.
Um processo de descoberta é necessário a todo momento em que existem muitas dúvidas, ou quando um time não está alinhado sobre onde deseja chegar.
Nele, todos os envolvidos se colocam à disposição de entender quem são os usuários, quais suas necessidades, o que eles precisam, desejam e valorizam e porquê, bem como suas maiores dificuldades. Aqui, explora-se porque e como determinadas situações ocorrem, a fim de definir qual o problema principal a ser resolvido e quais oportunidades ele traz.
Dentro dessa fase cabe entender as restrições do negócio e explorar tecnologias existentes, antes que qualquer interface ou código comecem a ser desenvolvidos.
E por que é necessário ser curioso? Bem, primeiro porque para cumprir todas as tarefas listadas acima é preciso estar realmente disposto a explorar cada parte do processo, bem como a estabelecer como cada uma dessas partes arquiteta o produto final.
A UX Research (ou pesquisa em experiência do usuário) é uma grande parte do processo de descoberta, pois a partir dele é possível detectar pontos até então desconhecidos, ao invés de afirmar o que já se sabe, ou o que se acha que se sabe, evitando que a equipe tome decisões a partir de informações incompletas.
E segundo, porque a resposta para como performar um bom workshop, acredite, não está somente em como diferentes métodos e ferramentas se combinam, escalam ou se adaptam, mas sim na capacidade que se tem de investigar um problema sem fazê-lo caber em uma tecnologia ou solução.
Um processo de descoberta não envolve testar uma hipótese, coletar requisitos ou validar uma solução. Ser curioso aqui é sobre explorar um problema e suas oportunidades, bem como aprender sobre o que ainda não se sabe, e não sobre como fazer um produto já idealizado funcionar para determinado público ou em determinado cenário.
Distorcer um processo de descoberta contribui para que insights contrários não sejam reconhecidos e impede que ações sejam tomadas caso sejam identificados insights que vão contra uma solução já pré determinada.
Ainda que o resultado de um discovery seja, em geral, o consenso sobre qual problema deve ser resolvido, bem como quais os resultados esperados, seu objetivo deve ser, acima de tudo, amplo.
Realmente não são as respostas que movem o mundo. São as perguntas, as perguntas bola de neve, aquelas que ninguém faz porque parecem óbvias demais ou estúpidas demais para se fazer em voz alta - e como ninguém faz, ninguém sabe a resposta. Perguntas como essas proporcionam o espaço perfeito para problemas se camuflarem e se tornarem cada vez maiores.
Um bom processo de descoberta envolve uma equipe multidisciplinar, composta por vários papéis a depender do tipo de solução que se constrói. Porém, os principais são: um UX Research que possa planejar e conduzir as pesquisas, alguém que possa facilitar o workshop ou liderar o time garantindo a boa comunicação durante o processo de descoberta, um responsável pelo projeto (PO), e pessoas capazes de explorar tecnologias disponíveis bem como apontar restrições técnicas, como um time de desenvolvimento.
Essa equipe deve investigar o cenário visando primeiro expandir seu entendimento, através de um processo de divergência, sobre todo o contexto. Depois, com esse conhecimento, definir, a partir de um processo de convergência, qual o problema principal, para assim seguir para a etapa de idealização e teste.
A equipe precisa discutir sobre essas questões juntas para que, no final, não tenha que consolidar informações sobre insights do problema que vão contra as decisões tomadas sobre a solução.
Além disso, é importante que não só uma pessoa tenha todo o conhecimento sobre o problema, mas sim toda a equipe, para que todos os pontos de vista sejam discutidos e todos possam se manter alinhados.
Aliás, você já ouviu falar em redes distribuídas?
O ambiente de um processo de descoberta precisa garantir que as pessoas se sintam confortáveis o bastante para fazerem perguntas do tipo bola de neve, então é necessário que todos sejam gentis.
Durante um processo de discovery, pesquisas exploratórias podem ser realizadas a fim de aprender e gerar insights sobre o contexto do problema - esse tipo de pesquisa pode envolver questionários, entrevistas com usuários, diários de estudo e estudos em campo.
Podem também ser realizadas entrevistas com stakeholders, com o objetivo de providenciar uma camada a mais de insights, que vai permitir compreender os objetivos chaves da organização, os problemas que afetam os bastidores, e as soluções que já foram utilizadas. As entrevistas com stakeholders podem também ajudar a definir a escala do problema e, mais tarde, definir qual a viabilidade de cada uma das soluções propostas.
E por fim, podem ser realizados workshops, que permitem não só o alinhamento da equipe sobre os objetivos esperados, mas também a condução de atividades de pesquisa com o intuito de explorar dados, mapear atividades e priorizar questões chaves.
A aplicação desses métodos exige uma boa quantidade de tempo gasta em conjunto para o completo entendimento do contexto do problema e suas oportunidades, o que por vezes gera ansiedade e expectativas, ambos sentimentos que podem vir a se tornar combustão para discussões inflamadas ao decorrer do projeto. Portanto, não se esqueça de ser gentil e adote o mindset de que todos os envolvidos neste projeto estão empenhados em encontrar o que é melhor para ele.
Grande parte dos processos de descoberta proporcionam o completo entendimento do contexto por todos, bem como evidências que sustentam a definição do problema principal definido, dados de pesquisa que fornecem jornadas e perfis de usuário, objetivos de curto e longo prazo, wireframes e a priorização de onde direcionar esforços.
Com isso, ao final do discovery, teremos algumas ideias de soluções claras o bastante para seguir para teste, e outras que demonstram que não valem a pena dar o próximo passo. Este entendimento é bastante conveniente para identificarmos, desde cedo, onde estão as reais oportunidades, evitando retrabalhos, esforços e custos desnecessários.
Processos de descoberta podem ser cansativos, pois exigem que uma certa quantidade de tempo seja investida pela equipe explorando contextos (em média 4 semanas). Mas, em contraponto, o discovery permite, além de seguir com uma equipe que realmente entende seu produto, antecipar cenários, reduzindo o risco de construir um produto que não terá sucesso no mercado ou atendendo uma demanda interna.
É nesta fase que validamos rapidamente funcionalidades, fluxos e conceitos, otimizando, assim, tempo e dinheiro. Aqui na ateliware, durante o processo de descoberta somamos suas ideias com o nosso conhecimento em design, tecnologia e engenharia de software. Com isso, temos uma solução pronta para desenvolvimento e condizente com as suas necessidades de negócio.
O discovery é recomendado para quem já construiu ou está pensando em construir um produto, e quer ter certeza de que investirá recursos em algo que trará bons resultados. Saiba mais.