Discovery: Sua Importância Para o Sucesso no Desenvolvimento de Software

Todo produto digital, antes de ser construído, precisa de uma boa base, constituída por pesquisas de mercado, pesquisas com usuários e com o próprio cliente. Dessa forma, todos os próximos passos e decisões serão muito mais sólidos e consistentes. Neste artigo, explico porque toda solução digital deve começar por um processo de discovery, ou descoberta.
Bianca Souza | 6 de maio de 2021

Discovery é um termo sofisticado para denominar um período de tempo que permite a uma equipe entender e definir um problema, buscando evidências suficientes para saber por qual direção seguir.

O período de discovery permite que, antes de um projeto entrar em produção, todos os aspectos do produto sejam compreendidos, e que tal perspectiva seja compartilhada com todos os stakeholders envolvidos, uma vez que um grande número de variáveis pode afetar o escopo, o budget, e o tempo necessário de produção de um projeto.

Uma boa fase de descoberta deve ser agnóstica em termos de solução e tecnologia. Discoveries não são exercícios de validação, nem buscam somente levantar requisitos. A prática de  workshops que tendem a esse mindset impede que insights sejam percebidos, ou que ações sejam tomadas acerca de percepções  que invalidam perspectivas já assumidas sobre o projeto.

Como o nome sugere, para essa etapa o objetivo é descobrir o que ainda não se sabe,  a fim de garantir que as soluções propostas depois, além de fazerem sentido para o usuário, sejam viáveis para a empresa e empreguem tecnologia disponível.

Em um ambiente onde se fala todo o tempo sobre como devemos cada vez mais considerar alteridade à empatia, se torna claro que decisões tomadas sem uma exploração apropriada acerca de um problema são decisões tomadas perante informações incompletas.

Sendo assim, ainda que o processo de discovery não seja o mesmo que UX Research, essa etapa exige investigação.

No texto sobre teste com usuários, a resposta curta à pergunta do porquê devemos realizá-los foi relativamente simples: porque não somos nossos usuários. A razão de envolver pesquisa no processo de discovery segue a mesma linha.

Ao tomar decisões ante informações incompletas, uma equipe está na verdade apenas atestando o que sabe, ou mais imprudente ainda, o que acha que sabe.

Seja o resultado final um produto ou um serviço, todo projeto antes de ser construído, deve ter determinados aspectos bem definidos.

Como determinar os aspectos e as variáveis importantes de um produto antes da fase de produção?

Na ateliware já lidamos com diversos projetos onde, ao final, o conceito acordado foi completamente diferente do que chegou às nossas mãos durante os primeiros contatos com o cliente.

O que aguçou nossa percepção de que a aplicação de workshops de descoberta aumentam a produtividade na etapa de produção de um produto. Hoje, enxergamos o discovery com o mesmo peso e importância que qualquer outra parte do processo.

Então, a fim de poder determinar tais aspectos citados acima, concebemos dentro de casa diferentes processos de discovery, que se apóiam em métodos e ferramentas distintas - como cada produto que construímos é único, determinamos que algumas variáveis seriam ajustadas de acordo com o cliente e o tipo de projeto.

Uma dessas variáveis é o tempo, pois enquanto alguns projetos exigem um intervalo maior dedicado a definição de valor e escopo, outros exigem apenas informações complementares que irão preencher lacunas.

Outra variável são as pessoas envolvidas. Todas que fazem parte do negócio ou são o público do produto devem ser ouvidas. Clientes sabem de seu negócio melhor do que qualquer um, então encorajamos que sua participação seja ativa.

O cuidado é apenas de não envolver uma grande quantidade de pessoas em etapas mais íntimas do processo de discovery, pois essa decisão pode impedir que a equipe avance.

Dessa forma, buscamos sempre ter, do nosso lado, alguém que lidere e organize os workshops, a fim de se certificar que todas as perguntas estejam sendo feitas e respondidas, bem como que todos estão sendo ouvidos. Também precisamos de especialistas de produção,  ou seja, pessoas que assumam as responsabilidades referentes ao design e desenvolvimento. Enquanto que, do lado do cliente, buscamos um ponto focal, precisamos de uma pessoa com quem teremos mais facilidade em nos comunicarmos, e pessoas que estejam dispostas a serem responsáveis pelas decisões que serão tomadas ao longo dessa etapa.

Por fim, os objetivos principais que, apesar de se diferenciarem, assim como tempo e a quantidade pessoas por projeto e cliente, em linhas gerais, buscam, a partir de uma equipe multidisciplinar, definir o escopo do projeto, identificar e por vezes estabelecer os valores do negócio e do produto, explorar tecnologias disponíveis, definir o problema a ser resolvido e as oportunidades que esse problema gera, a fim de mapear indicadores de sucesso, construir wireframes para mapear as principais funcionalidades e estimar budget e tempo de produção, de forma que todos os envolvidos, ao final, tenham suas expectativas alinhadas.

Existem também objetivos “secundários”, que apoiam os principais, tais como:

  • Identificar quem são e quais necessidades, comportamentos e jornadas dos usuários;
  • Analisar mercado e concorrência;
  • Analisar versões anteriores do produto;
  • Explorar problemas específicos do negócio.

As respostas aos objetivos citados acima permitem não apenas identificar os aspectos importantes que citamos que devem ser definidos antes do processo de produção de um produto, como também identifica quais os aspectos importantes do negócio.

Tais respostas irão também permitir compreender variáveis até então indeterminadas, variáveis essas, que afetam diretamente o custo e o tempo de produção do produto.

Por exemplo, algumas vezes, o número de funcionalidades é menor do que o previsto inicialmente pelo cliente, um escopo menor exige menos custo e menos tempo de produção. Outras vezes, complexidades podem ser descobertas ao longo do processo de discovery, aumentando o escopo do projeto previsto inicialmente.

Ao mapear funcionalidades, é possível traçar um plano de quando e como cada uma será implementada, bem como quantas e quais pessoas serão necessárias para atuar em cada etapa do projeto.

Dessa forma é possível decidir por acelerar o desenvolvimento de um produto, diminuindo seu custo, ao focar nas funcionalidades principais, entregando ainda sim sua essência, e planejando a implementação de outras funcionalidades conforme tempo e custo.

Quais os benefícios do processo de descoberta?

As respostas aos objetivos citados acima, atuam de forma a identificar todos os pontos de dores existentes bem como grande parte dos potenciais problemas que podem vir a ocorrer durante a fase de produção, tornando possível definir uma lista de riscos, e o melhor, uma lista  de possíveis soluções para cada um deles, antes mesmo que ocorram.

Em um processo de descoberta,  toda a equipe se torna responsável pelas evidências coletadas acima, ao fazer com com que todos se tornem capazes de ter a visão do produto como um todo, assim não só a produtividade no processo de produção aumenta, como o nível de confiança entre equipe e cliente.

Enquanto alguns dos especialistas trazem informações acerca de design, focando principalmente nas necessidades  e rotinas dos usuários, e em questões relacionadas ao produto e ao negócio, a fim de criar fluxos e wireframes que não só irão mapear as funcionalidades como irão permitir entender como o usuário irá se comportar ao usar o produto, os especialista em desenvolvimento buscam compreender sobretudo sobre possíveis integrações, tecnologias disponíveis, e como certas ações acontecerão, ambos ambos atuam em sincronia com o cliente que guia tais expertises ao providenciar informações sobre seu negócio e evidenciar aonde quer chegar. Tal colaboração proporciona um aumento na possibilidade de sucesso do produto.

Ao final desses encontros, é possível ter informações chaves como planos, timelines e a proposta de valor do produto e do negócio, informações necessárias para começar um projeto ou atrair investidores para o produto.

Um bom processo de discovery não mapeia apenas seu produto, mas estrutura um plano de desenvolvimento de sucesso.

Uma etapa de discovery é sempre necessária?

Se um projeto reúne evidências suficientes que apoiam a solução, no sentido de que há certezas - não só baseada na opinião da equipe, veja bem - que a solução resolve o problema identificado, sobre quais funcionalidades devem ser implementadas, e o produto atende todas as necessidades dos usuários bem como responde a seus comportamentos e expectativas, então provavelmente tal projeto pode seguir para a etapa de produção.

Entendemos que, muitas vezes, o prazo para o desenvolvimento de um produto digital é curto. Porém, incentivamos que as empresas abram espaço para o processo de descoberta, considerando que essa etapa explora riscos que poderiam ser identificados previamente e busca evitar recalculações de rota no meio da produção, produtos e negócios com grandes hiatos em sua entrega de valor e construção, e produtos frankensteins, onde o todo não é pensado e funcionalidades se acumulam uma acima da outra sem sentido algum, afetando custo e tempo de produção e aumentando a chance de o produto não fazer sucesso.

    Bianca Souza
    Designer | Impulsionada por resolver wicked problems, busco traduzir soluções que façam nossas vidas melhores. Vivo minha natureza criativa com os pés no chão, e processos de criação me trazem alegria.