A maioria das grandes empresas já adotou pelo menos uma medida em resposta às atuais mudanças de mercado. Essas transformações podem ser ágeis e/ou digitais, desde que seu principal objetivo seja gerar valor, melhorando a relação produto-cliente e o time-to-market.
Embora a tecnologia tenha um papel essencial na viabilização de respostas mais rápidas e flexíveis, nem sempre recebe a atenção que merece por parte dos executivos. Há uma certa resistência, uma dificuldade em compreender sua real importância e o que fazer para incorporá-la de vez no coração da instituição.
De um lado, temos lideranças que a consideram “coisa de especialista” e preferem se distanciar dos processos de mudança. Do outro, líderes que tem muito conhecimento, mas nem sempre utilizam uma linguagem acessível e engajadora para disseminar a cultura da tecnologia. Esses desencontros são improdutivos. Geram apenas atrasos, falhas e soluções nada eficientes, dificultando a inovação.
Contudo, esses não são os únicos desafios da transformação digital nas empresas. A falta de visão e de bagagem, a ausência de preparo, bem como a ansiedade e o imediatismo são mais entraves que podem ser encontrados pelo caminho.
O que fazer para remover esses obstáculos?
Como alcançar o próximo nível?
Para responder essas perguntas, vamos nos debruçar nos erros mais comuns, nas principais resistências encontradas ao desenvolver produtos digitais. Provavelmente, você vai se identificar com um ou mais deles. Também trouxemos recomendações, atitudes que podem ser tomadas desde agora para superar os desafios da transformação digital.
Quando falamos em transformação digital, qual é primeira ideia que surge na sua cabeça? Big Data? Machine learning? Ou, quem sabe, um produto digital disruptivo? Todos estes elementos podem fazer parte da transformação digital, mas são apenas um meio, uma forma de alcançá-la.
A transformação digital é, na verdade, uma mudança de mentalidade, que dissemina e incentiva a cultura tecnológica dentro das empresas.
Nas palavras de Peterson F. dos Santos, Founder & CEO da ateliware, "transformação digital é sobre como escolhemos tecnologias, como pensamos produtos, como buscamos oportunidades e como gerimos tudo isso.
É uma forma diferente de rodar a empresa - e esse processo é contínuo. Quando escolhemos tocar um negócio ou executar um produto com a mentalidade digital, uma mentalidade de evolução, sempre teremos algo para melhorar porque há sempre novas necessidades no mercado". Quem não acompanha o passo, fica para trás.
Quando focamos apenas nas ferramentas que vamos criar ou utilizar, não percebemos as mudanças necessárias para que transformação digital de fato ocorra.
Digamos que você queira adotar uma nova tecnologia. Sua equipe está preparada para trabalhar com ela? Algum processo precisa ser adaptado? Quais são os recursos necessários? Você terá que fazer outros investimentos?
Todas essas perguntas precisam ser respondidas antes de chegarmos a uma solução final.
Gabriela Gripp, Head of Design, participou do desenvolvimento de muitos produtos na ateliware. Sobre esse assunto, ela comenta: “Muitas empresas não estudam e não se preparam para construir um produto digital. Elas vem com uma carga analógica, presente no universo delas. Falam em metodologias ágeis, por exemplo, sem entender realmente o que são, como e quando aplicá-las”. O mesmo vale para outras ferramentas cada vez mais comentadas, como Inteligência Artificial, Internet das Coisas, etc.
No fim, a estratégia acaba sendo orientada por modismos - e não pelo o que a empresa realmente precisa. Isso é perigoso, pois pode implicar em soluções pouco compatíveis com a realidade da instituição, gerando desperdícios.
Para resolver esse problema, Alan Braga, nosso Head of Sales, recomenda: “Converse com o ecossistema de inovação. Compreenda o que são e para o que servem as novas tecnologias, levantando informações sobre quais são os recursos necessários para implementá-las”.
No outro lado dessa mesma moeda temos as empresas que acham que já sabem de tudo. Elas conhecem as tecnologias, o mercado, seu público e, por conta disso, acreditam ter todas as respostas. Querem ir direto ao assunto: a solução que, segundo elas mesmas, é a melhor.
Com isso, concentram todos os seus esforços na construção de um produto específico, sem perceber oportunidades ainda mais interessantes que podem escondidas logo ao lado.
Uma forma de evitar essa miopia é investir numa fase de descoberta, que antecede o desenvolvimento em si. Nessa etapa, uma série de estudos de mercado e testes com os usuários são realizados.
“No mundo da TI, a descoberta corresponde ao levantamento de requisitos, que é entender o que vamos fazer. Existe um certo preconceito com essa prática, pois muitas empresas não querem investir seu tempo nesse levantamento. Elas têm pressa, querem fazer tudo muito rápido, ainda mais agora com a questão do ágil. Mas, não devemos atropelar o passo. A descoberta é importante para economizar recursos mais à frente”.
Esse comentário do Peterson nos leva ao item seguinte: não testar o produto antes de lançá-lo no mercado.
“Algumas empresas têm recursos limitados. Por isso, não desejam investir em testes e em conhecer mais a fundo seus usuários. Outras, querem fazer um MVP apenas com as funcionalidades que elas consideram importantes. Esquecem que quem utilizará o produto não são elas mesmas. Se queremos construir produtos engajadores e eficientes, precisamos testá-los desde o início”, indica Gabriela.
Tão importante quanto os testes com os usuários são os testes de desenvolvimento, que visam detectar possíveis bugs, para que sejam corrigidos até que o produto final atenda todos os requisitos de projeto, isto é, atenda a qualidade desejada. Softwares que apresentam muitas falhas tem a manutenção e a implementação de novas funcionalidades prejudicadas, assim como a escalabilidade.
Ao pivotar uma solução, podemos aperfeiçoá-la antes de lançá-la no mercado.
Muitas vezes, acreditamos que o usuário busca por um produto que nós consideramos o ideal, mas que, na verdade, não atende o que ele realmente precisa. Ou, então, lançamos um produto pouco eficiente, com erros grosseiros. Sem esses testes, provavelmente teremos custos de manutenção muito maiores, e menos chances de sucesso no futuro.
Outro erro que representa um dos desafios da transformação digital é seguir os mestres. Esse jogo é arriscado. Empresas como o Uber, Spotify, Amazon e Airbnb são, sim, uma inspiração, mas precisamos ter em mente que a maturidade digital destas instituições é superior à maioria. Elas já possuem uma estrutura robusta, preparada para absorver impactos e adaptar-se rapidamente às mudanças de mercado. Além disso, têm muito mais fôlego no que diz respeito à investimentos.
A menos que você esteja no mesmo patamar que estas empresas, não faz sentido acompanhar o ritmo. É melhor construir a sua própria cultura empresarial, identificando qual é a melhor estratégia para seu negócio.
“Talvez implementar o Pipefy no processo de contas a receber seja uma grande inovação para uma empresa. A transformação digital pode ocorrer com uma ferramenta que já existe, mas gera uma nova forma de fazer as coisas. Uma forma mais ágil e eficiente”, comenta Peterson.
Portanto, não corra o risco de dar um passo maior que as próprias pernas. Isso pode elevar os seus custos e não gerar o retorno esperado.
Equipes divididas, focadas apenas em suas atividades dificultam a transformação digital. Essa compartimentação enrijece os fluxos de comunicação, obstruindo a colaboração e a troca de conhecimentos, além de bloquear a visão do todo.
Quando um colaborador vê apenas uma parte da empresa, um recorte, ele não consegue “pensar fora da caixa”, fugir do senso-comum. Também não é capaz de correlacionar informações e acontecimentos, identificando possíveis ameaças e oportunidades.
Para que a transformação digital flua, precisamos eliminar essas barreiras, construindo um ambiente de trabalho horizontal, que facilite a comunicação e descentralize o conhecimento. Aqui, novamente, temos uma mudança na cultura empresarial. Considere incentivar a participação de diferentes áreas na construção de soluções inovadoras.
Durante o desenvolvimento do software da Bcredi, por exemplo, parte da equipe da fintech trabalhou, durante algumas semanas, no nosso escritório, a fim de compreender, na prática, como é uma cultura voltada ao design e a tecnologia.
“A equipe de design e desenvolvimento da ateliware é multidisciplinar, generalista e possui uma vasta experiência de mercado, conhecimento em várias linguagens, plataformas, métodos e processos. Na ateliware praticamente tudo começa com uma ideia, que passa por pessoas diferentes com habilidades diferentes, visões de mundo diferentes, que se unem, discutem, compartilham e criam juntos algo sólido”, destaca Alana Zonato, nossa Head de Marketing.
Se a mentalidade de departamento já é um problema, imagine quando temos equipes mal formadas e pouco capacitadas. Sem dúvida, esse é mais um dos desafios da transformação digital.
Muitos profissionais são excelentes no que fazem. Dominam perfeitamente as habilidades técnicas necessárias para o desenvolvimento de um software. Porém, falham em habilidades mais subjetivas, como criatividade, comunicação, trabalho em equipe, gestão de tempo, entre outras.
Além disso, também temos profissionais que não se atualizaram, ainda não dominam novas tecnologias e linguagens.
Para Peterson, “uma boa pessoa na equipe é aquela que está aberta para aprender coisas novas. Ela não precisa saber tudo, mas consegue realizar suas tarefas com agilidade e mostrar resultado. Isso ajuda na gestão”.
"Precisamos assumir que esse problema pode ser, sim, um impedimento sério à transformação digital ", comenta Gabriela. “Além da capacitação, a equipe também precisa ter autonomia e apoio de seus gestores”.
“Aqui na ateliware, utilizamos diversos meios para manter as equipes sempre atualizadas e em movimento: eventos quinzenais de trocas de aprendizados entre projetos, participação nos maiores eventos das principais ferramentas e linguagens no mundo, meetups abertos ao público para mostrar e ensinar o que temos aprendido, entre outras ações constantes. Além disso, já identificamos que possuir um produto interno proprietário é o melhor laboratório para estarmos sempre testando e criando - e esse é o nosso ateliLAB, atualmente em busca de um novo produto a ser desenvolvido”, completa Alana.
Confira as habilidades técnicas e subjetivas que seu time deve ter.
Product Owner (ou PO) tem um papel fundamental no desenvolvimento do produto: é essa pessoa, do lado do cliente, quem lidera o processo e toma as decisões necessárias junto da equipe de desenvolvimento para que a solução ideal seja encontrada.
“Muitas vezes, essa figura tem um discurso pronto. Diz que está ali para fazer acontecer, mas, na hora de se comprometer, coloca outra pessoa para tomar a decisão. Quando retorna, as coisas foram feitas sem seu julgamento e deixam de atender suas expectativas. Essa ausência implica em custos, pois teremos que refazer, reajustar, colocar todo o produto nos trilhos que a liderança quer”, explica Gabriela.
O papel do PO ganha ainda mais importância quando se trabalha em um modelo de escopo aberto e quando a propriedade intelectual do software será 100% do cliente - nosso foco se torna construir junto com ele a melhor solução. Logo, a construção a 4 mãos (cliente e ateliware) se faz indispensável.
“Ao meu ver, um dos principais desafios da transformação digital é o valor do investimento”, aponta Alan. “Querem saber exatamente quanto vai custar o desenvolvimento de um software para aprovar esse investimento com o financeiro. Mas, como a transformação digital é um processo contínuo e os produtos são vivos, ou seja, estão em constante evolução, o valor pode variar muito”.
Por esse motivo, as empresas precisam estar preparadas para continuar investindo no produto, mesmo após sua “conclusão”. Precisam, ainda, saber que esse é o caminho certo para que ele continue prosperando no mercado.
“Às vezes, as empresas querem barganhar no momento errado. Poupam esforços nas fases iniciais de desenvolvimento e, depois, tem um produto desestruturado, sem embasamento, sem inteligência. Alguns estudos indicam que o custo de desenvolvimento de um produto corresponde a 10% do seu custo de vida. Se ele é mal feito, teremos um problema muito maior, pois os custos de manutenção serão elevadíssimos!”, alerta Gabriela.
Ainda sobre esse tema, Alana relembra a importância de diferenciarmos custos de investimentos: “Infelizmente, a grande maioria das empresas brasileiras ainda tem esta visão de que desenvolver um software é somente custo, e não investimento. Algo que gera apenas gastos. Porém, a transformação digital também está na compreensão de que o desenvolvimento de um software pode efetivamente trazer de retorno a curto e longo prazo”.
Estamos nos aproximando do final da nossa lista de desafios da transformação digital nas empresas. Espero que esteja apreciando esse conteúdo. 😉 Vamos analisar, agora, como a falta de metas claras é prejudicial nesse processo:
No Brasil, a maior parte das empresas é guiada pelos resultados. Se algo está dando certo, tudo o que vem a seguir é construído em cima disso. O ideal, entretanto, seria agir a partir dos objetivos.
O Airbnb, por exemplo, tinha um objetivo muito claro desde seu início: aproximar o mundo, incentivando experiências compartilhadas entre as pessoas. Perceba que não estamos falando em hospedagem, pois essa é apenas uma maneira de aproximar as pessoas.
Essa meta, somada à desburocratização de processos (outra forma de aproximação) fez com que o Airbnb se tornasse o que é hoje: a maior rede de “hotéis” do mundo. Se esse resultado fosse o objetivo principal do Airbnb, será que o serviço seria o mesmo?
“Quando a cultura de uma empresa é orientada pela tecnologia, nem sempre sabemos qual solução iremos encontrar. Mas, essa solução seria o como, o meio e não o objetivo final. Quando sabemos exatamente o que queremos resolver, ou seja, quando temos uma meta clara, as possibilidades são ilimitadas! Podemos criar diferentes produtos e evoluir continuamente”, explica Peterson.
Não podemos esquecer as pessoas quando o assunto é transformação digital.
Nesse processo, precisamos compreender:
Esse ponto tem tudo a ver com o itens 3 e 7 desta lista, onde falamos sobre o levantamento de requisitos e a capacitação do time, dois desafios da transformação digital.
Durante o desenvolvimento de um software para uma fintech, identificamos que o Elixir seria uma ótima tecnologia para o problema a ser resolvido. Contudo, houve certa preocupação em encontrar pessoas que dominassem essa linguagem para fazer a manutenção do produto. Uma empresa pode se perguntar: Vou conseguir manter essa tecnologia? Ela é estável?
“Provavelmente, as respostas que temos para uma tech nova não são suficientes para tomar uma decisão. Mas, a liderança que entende esse processo [a transformação digital] vai compreender e valorizar o uso da tecnologia em questão, buscando formas para que ela avance cada vez mais”, comenta Peterson.
“Muitas empresas querem criar um produto digital, mas tem medo de colocá-lo em prática. Por isso é tão importante conversar com o ecossistema de inovação para compreender todo o potencial de uma nova tecnologia. Dessa forma, nos preparamos melhor e eliminamos dúvidas”, recomenda Alan.
Como dissemos, a transformação digital é um processo contínuo. Por esse motivo, a inovação nem sempre é imediata. Inclusive, em muitos casos ela acontece em etapas.
“Nosso papel [como ateliê de software] é tentar fazer isso da maneira mais rápida possível. Por isso, quebramos o problema em partes menores e realizamos entregas menores também. Com essa metodologia, temos uma melhor noção do próximo passo”, explica Peterson.
A ansiedade e o imediatismo apenas atrapalham esse curso. Por isso, a gestão da empresa precisa mudar a sua mentalidade. Precisa se adaptar, oferecer suporte para que a iniciativa não fracasse.
Lembre-se: construa uma estratégia de transformação digital compatível com a sua realidade e necessidade. Cresça rápido, mas com passos firmes - e o mais importante: não tenha medo de falhar. Aprenda com seus erros e siga adiante.
Cada vez mais empresas lançam e amadurecem suas estratégias de inovação. Mas, antes de investir em produtos disruptivos e adotar as metodologias mais recentes, reflita sobre os principais desafios da transformação digital e como eles impactam sua empresa.
O que você pode fazer hoje para superá-los?
Recomendamos desmembrar o problema em pequenas partes e avançar gradualmente rumo ao seu objetivo final. Este, nunca poderá ser deixado de lado.
Se a sua empresa ainda não sabe exatamente o que ela quer resolver, reflita:
O que você quer com essa transformação?
Como você está vendo o seu futuro?
Você quer continuar fazendo sempre a mesma coisa?
Se você não agir agora, como será o seu amanhã?
Lembre-se:
Transformação digital é mudança de mentalidade e um processo contínuo;
Prepare sua empresa e sua equipe para receber o novo. Todas as partes precisam estar envolvidas;
Facilite a comunicação, elimine barreiras;
Não foque apenas no produto e nas funcionalidades. Estude o mercado e o público-alvo. Interaja com o ecossistema de inovação;
Teste seu produto antes de lançá-lo no mercado;
Não tenha medo de errar. Aprenda com suas falhas, elas podem trazer insights valiosos;
Não siga modismos. Invista numa estratégia que faça sentido para a sua realidade. Personalize a sua solução.
O que acha de continuarmos essa conversa? 😉 Estamos aqui para te ajudar!