Aprendizagem cíclica: experimentar, falhar, aprender e repetir

Quanto maior seu repertório, maiores serão as chances de você fazer conexões surpreendentes e inesperadas. Por isso, a aprendizagem cíclica é peça-chave quando o assunto é inovação. Ao nos dispormos a aprender por toda a vida, abrimos espaço para o novo e para a transformação.
Pedrão Oliveira | 21 de janeiro de 2021

Aprendizagem cíclica não é um conceito muito difundido por aí, com exceção de algumas incursões pedagógicas. Mas este termo surgiu para mim meio que espontaneamente - total onisciente coletivo - quando eu falava de experimentar, falhar, aprender e repetir. Não vou ter a pretensão de imaginar ter ‘inaugurado’ esse neologismo, mas foi algo até agora muito pessoal, pois não consegui encontrar quase nenhuma tese / estudo / artigo científico sobre este tema específico.

Acontece que essa tétrade do mundo de desenvolvimento ágil de software acaba chamando atenção pelo viés do erro, mesmo que o ato de falhar rápido signifique colher feedbacks céleres, entender onde estão as falhas e a partir delas construir conhecimento exponencial constante. Nem que seja 1% melhor todo dia… Nada de ‘quantos tickets cabem na sprint’, e sim deploy sempre que for possível.

Quando trazemos o aprender para o centro dos holofotes, fica mais ainda fácil compreender a importância de se abrir para novas oportunidades, modos de pensar e ver o mundo.

Busque nunca arrogar qualquer tópico que seja. Aprenda a aprender em todas as situações.

‘Tudo que sei é que nada sei’

São tantos conhecimentos múltiplos, sejam eles biológicos, étnicos, culturais, científicos, financeiros ou espirituais que renegar qualquer perspectiva pode gerar miopia indireta.

Quando pensamos em algo cíclico imaginamos começo, meio e fim se retroalimentando em um único paralelo e/ou dimensão. Algo como o famoso símbolo da reciclagem,  por exemplo. Mas, na verdade, esse ciclo pode mudar de posição espacialmente e buscar novas conexões em diferentes dimensões que não apenas as 2 do ‘plano’.

Imagine que você é o ponto azul na base do cone. Você vai começar a se mover ‘na tangente’ e ao ‘tender para fora’ irá alcançar conteúdos inéditos e diferentes áreas do conhecimento e, ao se tornar generalista, também existe espaço para desenvolver mais uma habilidade que as demais e se especializar em algum tema.

Se torne uma espiral ascendente estudando múltiplos temas. Busque pela expansão do intelecto.

Conhecimentos transversais não inviabilizam sabedorias mais profundas, como nos explica a teoria do profissional em ‘forma de T’. Quanto maior seu repertório, maiores serão as chances de você fazer conexões surpreendentes e inesperadas cruzando distintas áreas do saber e se tornando um profissional em ‘forma de X’.

Brincadeiras à parte… é nesse momento que você irá experimentar ‘ascensão’, ou seja, poderá transformar seu ciclo de sabedoria e percepção em uma elevação que invariavelmente o fará ser disruptivo, criativo e inovador (entenda você essas palavras como sinônimo ou não).

E sabe o ‘ponto de chegada’? O outro ponto azul no topo do cone? Então… ele é um conceito abstrato. Não há um fim.

A mesma coisa acontece quando pensamos em ‘terminar os estudos’, seja no ensino médio, na graduação ou no mestrado e doutorado. Estamos sempre em formação, não existe este ‘chegar lá’. Assim sendo, a máxima ‘o importante é a jornada e não o destino’ torna-se cristalina como água da nascente dentro da floresta.

Para deixar mais ‘rebuscado’… ‘lifelong learning’; ou como diria Sócrates: ‘Tudo que sei é que nada sei’.

Outros constructos para provar o mesmo ponto

De todas as opções, se olharmos com exponencialidade, veremos que não existe o jeito correto. O certo é mais rápido, mais livre de erros, mais bonito, mais fácil? Depende das ‘lentes’ que você escolhe colocar sobre as coisas.

Todas as sabedorias são válidas, seja qual for a origem. Existe altíssimo valor nos conhecimentos da humanidade que são traduzidos por crenças igualmente ricas de diferentes povos ao redor do mundo.

O mesmo vale para o desenvolvimento de software, onde pouco importa o binômio linguagem-framework de programação mais hype ou com o qual você tem mais familiaridade. As tecnologias utilizadas serão para uma aplicação web, por exemplo, poderão ser:

  • ** Ruby-on-Rails**, caso você precise de uma programação orientada a objetos e muito produtiva para desenvolver;

  • ** Elixir-Phoenix**, se o que procura é performance extremamente alta e escalabilidade igualmente elevada;

  • Python-Django, uma vez que a busca é por manutenção e testes de código que beirem o famigerado ‘state of the art’;

  • Node.js-Express ou Node.js-Sails Node.js-Loopback… entre outros.

Se alguém te oferecer uma linguagem específica como ‘bala de prata’ desconfie, afinal isso não existe! São diferentes possibilidades para ‘matar o monstro’ na sala.

Inclusão radical… vale tudo! Qualquer ângulo é tão válido quanto o seu dependendo sob qual ótica você enxerga a situação.

‘Sua pele em jogo’ como diria mais Nassim Taleb ou, adaptando à nossa realidade, muitos anos antes contou o gênio Ariano Suassana. Use este preceito para vivenciar experiências e se colocar no mesmo lugar dos demais. Entenda a perspectiva deles naquele contexto e não ‘tire o corpo fora’, a responsabilidade é igualmente sua.

Angela Davis fala muito disso, se não incluir tudo e a todos não estaremos fazendo mudanças significativas, estruturais e fortes a ponto de expandirmos a consciência de mais pessoas; concluindo na saída dessa inércia e entrada no movimento dinâmico constante da subida em espiral.

Angela, norte americana, aprendeu muito com a sábia pensadora brasileira Lélia Gonzalez, que pesquisava a intersecção sob uma ótica muito poderosa da semiótica e dos estudos de letras, da língua e as idiossincrasias do ser com a psicanálise Lacaniana.

Com ricos trocadilhos, ela cunhava expressões coloquiais divertidas como ‘na Améfrica-latina o pretuguês é a língua do Brasil’; nem parecia alguém de vida acadêmica e versada em teses. Mas justamente nessa ponte em se comunicar com quem tergiversava outro perfil de idioma que ela se fazia entender em ‘n’ esferas.

Fale outras línguas, estude música ou saiba programar um software. Arrisque outras formas de se comunicar com o universo, expresse-se no ímpeto de trocar informações e aprender novas sabedorias.

Multiversos; infinitas possibilidades, inclusive a não-possibilidade como alternativa.

Brincando com perspectivas matemáticas e geometria espacial para trazer analogias poderosas:

Já parou para pensar que entre todas as chances de algo ocorrer está também a probabilidade daquilo simplesmente não acontecer.

Zero e eterno são sinônimos? Nenhum e imensurável coexistem ou se sobrepõe?

O copo está meio cheio ou meio vazio?

Como entender um padrão infinito único por ser irregular?

Por que a música deve caber em ‘certas caixinhas de formalidade’?

Por que não improvisar e sentir as vibrações? Deixe que as ondas falem por si só.

Temos que tomar cuidado para que os sistemas educacionais não se tornem o que as empresas estão cada vez mais deixando de ser: resquícios do ‘Fordismo’. Em outras palavras, máxima atenção para que a aprendizagem não se torne um processo enfadonho, exaustivo e repetitivo que culmine na formação de ‘as.po.ne(s)’. Afinal, como David Graber já estudou extensamente, o mundo não comporta mais ‘bullshit jobs’. Por isso, não faz sentido tratarmos o conhecimento como uma ‘linha de produção’, onde há pouca interação entre diferentes áreas e pouco importam suas habilidades ou aptidões, especialmente as ‘soft skills’.

Vamos olhar para a educação personalizada como alternativa viável para todos, diferentes idades e interesses atendidos de maneira interseccional. Se delimitamos personas / arquétipos para medir a usabilidade de usuários em uma ferramenta digital e construir a partir das particularidades de cada um, por que não fazer o mesmo com a educação em todos os seus níveis e para diferentes idades?

‘Hoje em dia o que as pessoas chamam de aprendizado é algo imposto a você. Todo mundo é obrigado a aprender a mesma coisa, no mesmo dia, na mesma velocidade e na mesma sala de aula. Mas todo mundo é diferente. Para alguns, a aula pode ser muito rápida, ou lenta demais, para outros pode estar indo até mesmo na direção errada.’

  • Isaac Asimov em 1988 no programa de TV World of Ideas.

Deveríamos nos apoiar na beleza das ‘proporções áureas’ para pensar no aumento cognitivo exponencial como projeto de sociedade global. ‘Golden ratio’ que ficou conhecido pelo nome de um famoso matemático italiano e explica a beleza da função exponencial contida em tantos lugares da natureza, algo que torna difícil não pensar na matemática como algo que já existia e foi apenas descoberta para diferentes realidades, distintas verdades e regras.

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Imagem: Atitude reflexiva

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Lembra daquela espiral em movimento constante e progressivo, com direção? Pois bem, é assim que você viaja de carona - no espaço - dentro de um planetinha azul que pega carona na ‘cauda’ de uma estrelinha amarela.

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Imagem via Gifer

É assim também que as partes mais fundamentais do seu corpo regem as leis daquilo que vai ser construído em todo seu organismo.

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Imagem via Best Animations

Seja na dimensão das coisas massivamente grandes ou naquela das nanopartículas inteligentes a relação de aumento exponencial é sempre uma realidade.

Para desenvolver um produto ou participar de qualquer projeto multidisciplinar, todos devem construir o conhecimento exponencial de maneira paulatina e sucessiva, mirando a expansão das informações em cada vez mais esferas de contexto, ao mesmo tempo em que se adicionar complexidade nas tarefas sendo executadas.

Explico: para pensar a inovação temos que fazer pequenas e sucessivas conquistas que nos darão reportório para expandir a zona de atuação.

Tomemos como exemplo hipotético a maior ferramenta de streaming de música do mundo, o Spotify. Muito provavelmente seus primeiros ‘releases’ ficaram dentro do que chamamos de ‘coração do negócio’, ou seja tocar música. Tudo o que se precisava eram os botões play, pause, previous e next; além de informações sobre o artista, álbum e faixa, tudo isso voltado para o consumidor final como usuário.

Somente depois que isso ficou ‘bem azeitado’ partiu-se para novos desafios como intersecção de usuários mostrando ‘o que seus amigos estão ouvindo’ ou até mesmo a curadoria algorítmica que sugere novas canções e gêneros com base no que você e seus amigos estão escutando.

Após a conquista dos usuários que seriam a base de clientes primordiais para a existência de um modelo de monetização por assinatura é que foi possível olhar para os artistas e começar a entregar os números de vezes que as músicas foram reproduzidas, o valor arrecadado pelo percentual de cada contrato firmado em dashboards recheadas de gráficos personalizados.

Conforme evoluia no mundo fonográfico, a plataforma pode começar a dialogar com selos, gravadoras e empresários para exibir funções como divulgação das agendas de shows dos artistas em diferentes países e até mesmo novas parcerias comerciais disponibilizando álbuns para venda física em formatos como o vinil.

Então, lembre-se: Todo mundo tem alguma coisa para ensinar. Absorva sempre que puder. Aprenda a aprender.

Em resumo? Tudo ensina, tudo aprende… Se joga! Diversifique! Evolua!

Pedrão Oliveira
Head of CX | Cuida da experiência em operações, cria estratégia e dá pitaco nos produtos digitais em concepção. Estuda veganismo, bitcoin e antropologia biopsicossocial, também é leigo-entendido em ciências e astronomia.