3 motivos para construir produtos digitais acessíveis

Quanto mais efetiva a usabilidade que um produto proporciona, mais consolidado ele se torna no mercado. Pessoas com algum tipo de deficiência acabam sendo prejudicadas pelo fato de que, em sua maioria, os pontos de usabilidade pensados não levam em conta as limitações de uso deste público. Dessa maneira, produtos que tem uma usabilidade eficaz para boa parcela da população podem tornar-se inacessíveis para pessoas com necessidades especiais. Apresentamos neste artigo alguns pontos sobre a importância da acessibilidade em produtos digitais e seu impacto nos tempos atuais.
Fabiano Favretto | 10 de dezembro de 2020

Bons produtos digitais apresentam uma boa experiência de uso, uma interface fácil e intuitiva, e também facilitam as tarefas do usuário em sua rotina de utilização. Porém, nem sempre estes pontos são suficientes para que todos os usuários possam utilizar o produto de uma maneira efetiva. Pessoas que possuem algum tipo de deficiência, seja visual, auditiva, motora ou mental muitas vezes encontram barreiras que impossibilitam o bom uso do produto. Tornar produtos digitais acessíveis para todos os tipos de usuários e públicos têm se tornado cada vez mais importante e necessário, devido a fatores de inclusão, imagem da instituição e até mesmo sobrevivência do produto.

Quem é considerado pessoa com deficiência?

Segundo a Lei Federal n° 13.146/2015, que regulamenta internamente as disposições da Convenção da ONU, prevê em seu artigo 2º:

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Com a constitucionalidade do conceito de pessoa com deficiência e proibição do retrocesso, a deficiência que antes se tratava somente como caráter médico, acaba levando em conta a dificuldade de inserção social do indivíduo para a sua caracterização, ou seja, não é a pessoa que apresenta uma deficiência, mas a sociedade e o meio em que a mesma está inserida.

Qual o cenário de pessoas com deficiência no Brasil?

Atualmente, no Brasil, segundo o censo do IBGE, aproximadamente 24% da população geral apresenta algum tipo de deficiência, totalizando cerca de 45.606.048 pessoas. Essa deficiência pode ser mental, motora, auditiva ou visual. Segundo o mesmo censo, a deficiência que mais ocorre no Brasil é a visual, com cerca de 18,6%, seguida da motora com 7%, da auditiva e mental com 5,1% e 1,4%, respectivamente.

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Censo - População residente por tipo de deficiência permanente, 2010 - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Por que devemos criar produtos digitais acessíveis?

Produtos digitais, assim como quaisquer outros produtos devem atender a todos os tipos de usuários, e além disso, existem outras três razões para que devemos construir produtos digitais acessíveis:

1. Razões legais

A acessibilidade está se movendo para ser vista como um direito humano internacionalmente. Empresas estão se dando conta disso e usando a acessibilidade como um elemento fundamental, e não somente como um acessório ou algo complementar. As leis federais em diversos países estão contribuindo para esta mudança de postura das empresas: No Brasil, por exemplo, em 2015 foi aprovada a LEI Nº 13.146, mais conhecida como Lei brasileira de Inclusão (LBI), ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, que foca em pontos muito interessantes e ressalta a obrigatoriedade de mudanças estruturais, tanto de órgãos públicos como privados:

  • A criação de um cadastro com intuito de facilitar a elaboração de políticas públicas;
  • Punições mais severas para quem desrespeita os direitos de pessoas com deficiência;
  • Atos discriminatórios como cobrar mensalidade mais cara de alunos com deficiência, a recusa de adaptações possíveis e de fornecimento de tecnologias assistivas foram proibidos;
  • Opções acessíveis em shows, museus e sites da internet passaram a tornar-se obrigatórias.

2. Razões morais

Criar um produto digital com funcionalidade universal é uma necessidade latente. O acesso a esse produto deve ser de qualquer plataforma, seja desktop, mobile, independente do sistema operacional, e deve atender ao máximo de traduções possíveis.

A discriminação de pessoas com algum tipo de deficiência é enorme, e a não-criação deste tipo de conteúdo universal caracteriza-se também como discriminação.

3. Razões comerciais

Um produto digital que apresenta uma boa acessibilidade ajuda a definir uma boa imagem para a empresa, além disso, quando se pensa em um produto que atende todas as diretrizes de construção levando-se em conta os padrões de acessibilidade, o SEO deste produto torna-se mais efetivo e destacado. Tornar seu site ou produto digital responsivo e acessível ajuda no alcance do mesmo nacional e internacionalmente, além de criar empatia com seus usuários.

Como posso tornar produtos digitais acessíveis?

Para tornar produtos digitais acessíveis, deve-se pensar nesse ponto desde o início de seu planejamento e concepção. Porém, nada de pânico! Se você já tem um produto digital no mercado, pode adaptá-lo para apresentar recursos de acessibilidade. São dicas simples, mas que ajudarão em muito os usuários que necessitam de algum tipo específico de acesso:

  1. Crie sempre a descrição alternativa das imagens. Isso possibilita que os leitores de tela identifiquem-nas e descrevam-nas para os usuários com deficiência visual;
  2. Simplificar o seu texto ajudará pessoas que tenham dislexia ou alguma deficiência cognitiva;
  3. Cores não são o suficiente para destacar uma informação! Usar textos mais descritivos ajudará pessoas que tenham algum tipo de deficiência na diferenciação de cores (daltonismo) a diferenciar as informações;
  4. Habilitar o uso da tabulação do teclado e criar áreas de cliques maiores ajudam usuários que possuam algum tipo de deficiência física;

Existem várias ferramentas que podem te ajudar nessa virada de página de seu produto digital, como o Essential Accessibility que possibilita o acesso de pessoas que têm dificuldades em manusear o teclado ou mouse, possibilitando o movimento do cursor pelo movimento da cabeça e comando de voz; o BrowseAloud que auxilia o acesso de pessoas que possuem dislexia, baixa escolaridade ou deficiência visual através da leitura do conteúdo; e o Hand Talk, que deixa todo o conteúdo acessível em libras, ajudando aquelas pessoas que têm alguma deficiência auditiva.

Outras ferramentas interessantes a se considerar são aquelas que possibilitam a verificação das cores do site, como o site Toptal, que possibilita o teste de websites simulando diversos tipos de deficiência visual.

É importante também estar atento às diretrizes mundiais de acessibilidade definidos pela W3C - a WCAG (Web Content Accessibility Guidelines), pois são esses parâmetros que se seguidos à risca tornam seu produto digital quase totalmente acessível. Você deve estar se perguntando: Quase?

A resposta é Sim! Seguir as normas da W3C e WCAG não tornam seu produto digital completamente acessível. Recomenda-se, então, realizar testes com todos os usuários reais, inclusive aqueles que possuam algum tipo de deficiência. A partir destes testes realizados, aplicar as alterações necessárias ajudará para que o resultado seja um produto digital acessível e democrático.

Referências:

  • Guia da Acessibilidade, Handtalk;
  • LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015;
  • Acessibilidade e o direito das pessoas com deficiência, Politize;
  • Censo demográfico 2010, IBGE;
  • Novo Conceito de Pessoa com Deficiência e Proibição do Retrocesso, Ministério Público do Paraná;
  • Conceitos de deficiência, Ministério Público do Paraná;
  • Essential Accessibility;
  • Texthelp;
  • Handtalk;
  • Toptal.
Fabiano Favretto
UX/UI Designer | Café sem açúcar, música, usabilidade e um bom livro. A arte me move e o Design me puxa.