Bons produtos digitais apresentam uma boa experiência de uso, uma interface fácil e intuitiva, e também facilitam as tarefas do usuário em sua rotina de utilização. Porém, nem sempre estes pontos são suficientes para que todos os usuários possam utilizar o produto de uma maneira efetiva. Pessoas que possuem algum tipo de deficiência, seja visual, auditiva, motora ou mental muitas vezes encontram barreiras que impossibilitam o bom uso do produto. Tornar produtos digitais acessíveis para todos os tipos de usuários e públicos têm se tornado cada vez mais importante e necessário, devido a fatores de inclusão, imagem da instituição e até mesmo sobrevivência do produto.
Segundo a Lei Federal n° 13.146/2015, que regulamenta internamente as disposições da Convenção da ONU, prevê em seu artigo 2º:
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Com a constitucionalidade do conceito de pessoa com deficiência e proibição do retrocesso, a deficiência que antes se tratava somente como caráter médico, acaba levando em conta a dificuldade de inserção social do indivíduo para a sua caracterização, ou seja, não é a pessoa que apresenta uma deficiência, mas a sociedade e o meio em que a mesma está inserida.
Atualmente, no Brasil, segundo o censo do IBGE, aproximadamente 24% da população geral apresenta algum tipo de deficiência, totalizando cerca de 45.606.048 pessoas. Essa deficiência pode ser mental, motora, auditiva ou visual. Segundo o mesmo censo, a deficiência que mais ocorre no Brasil é a visual, com cerca de 18,6%, seguida da motora com 7%, da auditiva e mental com 5,1% e 1,4%, respectivamente.
Censo - População residente por tipo de deficiência permanente, 2010 - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Produtos digitais, assim como quaisquer outros produtos devem atender a todos os tipos de usuários, e além disso, existem outras três razões para que devemos construir produtos digitais acessíveis:
A acessibilidade está se movendo para ser vista como um direito humano internacionalmente. Empresas estão se dando conta disso e usando a acessibilidade como um elemento fundamental, e não somente como um acessório ou algo complementar. As leis federais em diversos países estão contribuindo para esta mudança de postura das empresas: No Brasil, por exemplo, em 2015 foi aprovada a LEI Nº 13.146, mais conhecida como Lei brasileira de Inclusão (LBI), ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, que foca em pontos muito interessantes e ressalta a obrigatoriedade de mudanças estruturais, tanto de órgãos públicos como privados:
Criar um produto digital com funcionalidade universal é uma necessidade latente. O acesso a esse produto deve ser de qualquer plataforma, seja desktop, mobile, independente do sistema operacional, e deve atender ao máximo de traduções possíveis.
A discriminação de pessoas com algum tipo de deficiência é enorme, e a não-criação deste tipo de conteúdo universal caracteriza-se também como discriminação.
Um produto digital que apresenta uma boa acessibilidade ajuda a definir uma boa imagem para a empresa, além disso, quando se pensa em um produto que atende todas as diretrizes de construção levando-se em conta os padrões de acessibilidade, o SEO deste produto torna-se mais efetivo e destacado. Tornar seu site ou produto digital responsivo e acessível ajuda no alcance do mesmo nacional e internacionalmente, além de criar empatia com seus usuários.
Para tornar produtos digitais acessíveis, deve-se pensar nesse ponto desde o início de seu planejamento e concepção. Porém, nada de pânico! Se você já tem um produto digital no mercado, pode adaptá-lo para apresentar recursos de acessibilidade. São dicas simples, mas que ajudarão em muito os usuários que necessitam de algum tipo específico de acesso:
Existem várias ferramentas que podem te ajudar nessa virada de página de seu produto digital, como o Essential Accessibility que possibilita o acesso de pessoas que têm dificuldades em manusear o teclado ou mouse, possibilitando o movimento do cursor pelo movimento da cabeça e comando de voz; o BrowseAloud que auxilia o acesso de pessoas que possuem dislexia, baixa escolaridade ou deficiência visual através da leitura do conteúdo; e o Hand Talk, que deixa todo o conteúdo acessível em libras, ajudando aquelas pessoas que têm alguma deficiência auditiva.
Outras ferramentas interessantes a se considerar são aquelas que possibilitam a verificação das cores do site, como o site Toptal, que possibilita o teste de websites simulando diversos tipos de deficiência visual.
É importante também estar atento às diretrizes mundiais de acessibilidade definidos pela W3C - a WCAG (Web Content Accessibility Guidelines), pois são esses parâmetros que se seguidos à risca tornam seu produto digital quase totalmente acessível. Você deve estar se perguntando: Quase?
A resposta é Sim! Seguir as normas da W3C e WCAG não tornam seu produto digital completamente acessível. Recomenda-se, então, realizar testes com todos os usuários reais, inclusive aqueles que possuam algum tipo de deficiência. A partir destes testes realizados, aplicar as alterações necessárias ajudará para que o resultado seja um produto digital acessível e democrático.